Não é uma pedra é um toco

Não é uma pedra é um toco
TOCO & COGUMELOS - COLONIA DE COGUMELOS - foto tirada durante caminhada de fim de semana - Guará novembro 2010

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O livro



Há tempos penso em escrever um livro. Entretanto tenho sérias dificuldades para começar e fechar o primeiro parágrafo. Tenho dúvidas sobre qual pessoa usar; se escrevo na primeira pessoa, pode parecer presunção da minha parte achar que tenho tanta coisa assim para contar; se utilizo a terceira pessoa, aí podem achar que sou uma daquelas pessoas que fica imiscuindo-se na vida dos outros: um xereta!
Também tentei me inspirar nos livros que fizeram parte da minha existência. Incluo nessa lista aqueles que li durante as minhas férias que passei no Barro Vermelho. Mas sem sucesso...
Não consegui ter nenhum insight. Lembro-me de que a estante que acomodava os livros lá na fazenda nem parecia a mesma que um dia esteve na biblioteca da casa em que morei na Rua dos Afogados: a madeira era reluzente e, mesmo estando fechada, podia-se ler, com facilidade, os títulos através das portas com detalhe em vidro transparente. A estante de mogno era cuidada com esmero pelas mãos da secretária de casa. Às sextas-feiras, era o dia em que todos os livros eram retirados e limpos com um espanador, depois voltavam para dentro na mesma ordem em que estavam anteriormente.
Na fazenda, entretanto, a velha estante não recebia esses mesmos cuidados: ela estava no primeiro cômodo da casa que dava para a BR sem asfalto, e o pó da piçarra vermelha entrava sem pedir licença, penetrando pelas frestas sem qualquer pudor. Quando eu não ia pescar nem caçar, ficava sentado no alpendre em companhia de algum livro da estante. Pegava o que vinha à mão; lia de Jorge Amado a Machado de Assis, de José de Alencar a Clarisse Lispector; li também livros que, tenho certeza hoje, não seriam recomendados para um menino daquela idade.
Creio que li prá mais de 100 títulos durante todos os anos em que passei as férias na fazenda, mas, mesmo tendo lido todos aqueles livros, nenhum deles me deu a chave do que eu procurava: Como escrever o primeiro parágrafo de um livro.

(Deixo aqui registrado meus agradecimentos ao amigo e professor de Português Alberto Kruklis, pela atenção em revisar o texto acima)